Mesmo em casos de necrose pulpar, não anestesiar pode comprometer a qualidade do preparo e o sucesso do tratamento.
O Erro Comum ao Tratar Necrose Pulpar
É muito comum o profissional — ou o próprio paciente — acreditar que, diante de um diagnóstico de necrose pulpar, a anestesia local é desnecessária. Afinal, se a polpa está necrosada, não há mais fibras nervosas, certo?
Errado!
Essa é uma má ideia e pode, inclusive, comprometer o prognóstico do tratamento endodôntico.
Fibras Tipo C: O Motivo Pelo Qual a Dor Ainda Pode Existir
Mesmo em um dente com necrose pulpar, pode haver um tipo específico de fibra nervosa ainda viável: as fibras tipo C.
Características dessas fibras:
✅ Conseguem sobreviver em ambientes sem oxigênio, como o tecido pulpar necrosado.
✅ Podem ser responsáveis por dor durante etapas críticas do preparo endodôntico.
➡️ Ou seja, mesmo que o diagnóstico seja de necrose, o paciente pode sentir dor.
E Quando Há Lesão Periapical?
O raciocínio se mantém. Mesmo nos casos de necrose pulpar associada a lesão periapical, podem existir fibras tipo C viáveis no tecido inflamatório presente na região periapical.
➡️ Resultado: dor pode surgir durante a instrumentação, especialmente ao trabalhar no terço apical.
O Impacto da Falta de Anestesia no Prognóstico
Para ilustrar, compartilho uma experiência pessoal:
Ainda recém-formada, atendi um paciente com diagnóstico de necrose pulpar e início de lesão periapical. O paciente, sabendo que o canal estava “morto”, solicitou que eu realizasse o tratamento sem anestesia.
No início, tudo ocorreu bem. Porém, ao avançar na instrumentação do terço apical, o paciente começou a relatar dor.
Como a sessão já estava adiantada, ele preferiu “aguentar”. Só que, a cada inserção de lima, a expressão de dor dele me impactava. Naturalmente, minha atuação ficou mais limitada, menos precisa, e o preparo ficou aquém do que eu poderia ter feito com anestesia e total conforto para o paciente.
Conclusão: a falta de anestesia impactou diretamente a qualidade do preparo e, consequentemente, a previsibilidade de sucesso do tratamento.
A Lição: Nunca Subestime a Importância da Anestesia
Desde esse dia, nunca mais realizei qualquer intervenção endodôntica, independentemente do diagnóstico, sem a devida anestesia local.
➡️ Mesmo em necrose pulpar, a anestesia:
✅ Elimina a possibilidade de dor causada pelas fibras tipo C.
✅ Garante um ambiente de trabalho tranquilo e controlado.
✅ Permite que o profissional realize o melhor preparo possível, com foco total na técnica.
O Paciente Quer Sem Anestesia? O Profissional Decide
Muitos pacientes chegam com essa solicitação, acreditando que, por se tratar de necrose, não haverá dor.
Mas quem responde pela qualidade e segurança do tratamento é você.
➡️ Explique ao paciente:
✔️ Por que a anestesia é necessária.
✔️ Como ela contribui para o conforto e para o sucesso do tratamento.
Conclusão: Técnica e Ética Sempre Caminham Juntas
Anestesiar em casos de necrose pulpar não é opcional — é uma conduta técnica e ética fundamental.
Como profissional, sua missão é garantir o melhor atendimento, com qualidade, segurança e respeito ao bem-estar do paciente.
Lembre-se: a responsabilidade pelo tratamento é exclusivamente sua.